A Bíblia é rica em figuras de linguagem. Mas antes, o que é figura de linguagem? As regras gramaticais determinam a função usual de cada palavra, porém, em alguns casos, o escritor põe de lado este sentido e emprega novas formas para dar cor e brilho ao texto. Assim, se dissermos que “está chovendo forte”, veremos que cada palavra segue o seu sentido habitual, porém quando falamos que “está chovendo canivetes” percebemos que as palavras saíram do seu sentido corriqueiro e adquiriram novo significado. O mesmo acontece quando falamos que alguém morreu de rir, ou que ninguém engole fulano. Visto que a Bíblia contém tantas figuras de linguagem, faz-se necessário conhecê-las e saber o significado que elas transmitem.
Porque usamos as figuras de linguagem? A resposta é que elas: Acrescentam cor e vida; chamam a atenção; tornam os conceitos abstratos ou intelectuais mais concretos; ficam mais bem registradas na memória; Sintetizam melhor uma idéia; Estimulam a reflexão.
Como saber se uma expressão é ou não figurada?
1. Adote sempre o sentido literal de uma passagem, a menos que haja boas razões para não fazê-lo;
2. O sentido é figurado quando o literal implicar uma impossibilidade;
3. O sentido é figurado se o literal for absurdo;
4. Adote o sentido figurado quando o literal sugerir uma imoralidade;
5. Repare se uma expressão figurada vem acompanhada de uma explicação literal;
1. Símile: É uma comparação em que uma coisa lembra outra explicitamente: “Toda carne é como a erva...” (1 Pe 1.24)
2. Metáfora: É uma comparação em que um elemento é, imita ou representa outro, sendo ambos diferentes: “Eu sou a porta” (Jo 10.7,9)
3. Hipocatástase: A comparação é indicada diretamente: “Cães me cercam...” (Sl 22.16)
4. Metonímia: Substituímos uma palavra por outras: a) Causa no lugar do efeito: “...firamo-lo com a língua...” (Jr 18.18); b) O efeito no lugar da causa: “Eu te amo, ó Senhor, força minha...” (Sl 18.1; c) Objeto em lugar de outro semelhante ou a ele relacionado: “... a terra se prostituiu...” (Os 1.2)
5. Sinédoque: Substituição da parte pelo todo ou vice-versa: O decreto de Augusto foi para que “todo o mundo” se alistasse. É claro que ele referia-se apenas ao Império Romano.
6. Merisma: O todo é substituído por duas partes opostas: “Sabes quando me assento e quando me levanto...” (Sl 139.2)
7. Hendíade: Substitui um conceito por dois termos coordenados: ministério e apostolado em At 1.25 refere-se ao ministério apostólico.
8. Personificação: Características ou ações humanas são atribuídas a seres ou objetos inanimados: “O deserto e a terra se alegrarão...” (Is 55.12).
9. Antropomorfismo: Atribuição de qualidades ou ações humanas a Deus: “...dedos de Deus...” (Sl 8.8)
10. Antropopatia: Emoções humanas atribuídas a Deus: “... tenho grandes zelos de Sião...” (Zc 8.2)
11. Zoomorfismo: Características animais atribuídas a Deus: “...Cobrir-te-á com as suas penas...” (Sl 91.4)
12. Apóstrofe: Refere-se a um objeto como se fosse pessoa ou a uma pessoa ausente como se ela estivesse presente: “Que tens, ó mar, que assim foges...” (Sl 114.5)
13. Eufemismo: Trocamos uma palavra agressiva por outra mais suave: A Bíblia chama a morte dos cristãos como um adormecimento.
14. Elipse: É a omissão de uma palavra ou palavras, deixando incompleta a estrutura gramatical. Os doze, 1 Co 15.5, significa os doze apóstolos.
15. Reticência: É a interrupção repentina do discurso: “Agora, pois se perdoasses o seu pecado...” (Êx 32.32)
16. Pergunta retórica: É a que não exige resposta, apenas levando o leitor a pensar: “Acaso há para Deus cousa demasiadamente difícil?...” (Gn 18.14)
17. Hipérbole: É uma afirmação exagerada em que se diz mais do que o significado literal com o objetivo da ênfase: “... as cidades são grandes e fortificadas até os céus...” (Dt 1.28)
18. Litotes: É uma frase suavizada ou uma negativa para expressar uma afirmação: “...cidade não insignificante...” (At 21.39)
19. Ironia: Forma de ridicularizar sob a forma de elogio: “...clamai em altas vozes, porque ele é deus!”... (1 Rs 18.27)
20. Pleonasmo: Repetição de palavras ou acréscimo de palavras semelhantes parecendo uma redundância: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi...” (Jó 42.5 ARC)
21. Oxímoro: Combina termos opostos e contraditórios: “A glória dos inimigos de Cristo está na sua infâmia...” (Fp 3.19).
22. Paradoxo: É uma afirmação aparentemente absurda ou contrária ao bom senso: “ quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á...” (Mc 8.35)
23. Paronomasia: É o uso das mesmas palavras ou de palavras de sons semelhantes: “... deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos...” (Mt 8.22)
24. Onomatopéia: É uma palavra cuja pronúncia imita o som da coisa significada: Murmúrio.
1. Descubra se existe alguma figura de linguagem
2. Descubra a imagem e o objeto na figura de linguagem
3. Especifique o elemento da comparação
4. Não presuma que uma figura de linguagem sempre signifique a mesma coisa: Orvalho em Os 6.4 fala da brevidade do amor de Judá, já em 14.5 fala da bênção do Senhor sobre Israel.
5. Sujeite a figura de linguagem a um limite legítimo por meio da lógica e da comunicação.
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